terça-feira, 28 de setembro de 2010

Guatapé,Colombia 26 de Setembro 2010











Observo um espectáculo de pirotecnia na cama do quarto do hotel. A porta que dá para a rua está entreaberta o que me permite ver e ouvir a força desta tempestade. A mesma força com que a chuva ataca este chão, coberto de tudo o que é verdadeiro, de tudo o que é real.
E é tudo tão simples, tão espectacular e imaginem só: gratuitamente.
Aqui, parece que a mão do homem não passou. Talvez porque não tenham tido poder monetário para destruir aquilo que foi deixado pela natureza. Talvez haja muitos lugares destes no mundo, talvez já tenha visto algures na televisão. Mas nunca tinha presenciado tal coisa.

Ao princípio foi chocante: ver crianças descalças, em casas tão pequeninas, facilmente confundidas com infantários pelas pinturas que apresentam nas paredes exteriores.
Não há um multibanco, não há um cinema, não há um parque, não há um centro comercial, lojas de roupa (só para os turistas), a estrada é só uma; passa por entre o meio das montanhas com o objectivo de satisfazer as necessidades básicas destas pessoas.
O Sr. Humberto, motorista do táxi do hotel (um mata velhos, mascarado com pinturas e luzes de todas as cores que se acendem para entreter os turistas), toma calmamente o seu pequeno almoço ás 7 da manhã: massa com carne, ou se preferirmos o nosso jantar de ontem, restos daquilo que não quisemos. Talvez vá ser a sua única refeição do dia. Talvez seja por isso que não se queixa e que o faz saborear com tamanha disposição.

Ainda assim, de tudo, o que mais me impressionou foi a vontade, simpatia e simplicidade com que estes empregados falam aos seus hóspedes. A genuidade dos seus sorrisos levam-nos a agradecer toda a dedicação que caracteriza o seu trabalho. A sua resposta é outro sorriso que rematam com a expressão: “con mucho gusto”

Um grupo de miúdos tratam das canoas, descalças, á chuva, debaixo de um calor abafado mas sempre a rir. O mais velho, dá ordens, os outros cumprem sem pestanejar. A tranquilidade que se vive ali é inquestionável, respira-se.

É tão injusto pedirmos mais do que aquilo que temos quando há pessoas com tão menos do que nós… É incrível que tenhamos que presenciar todas estas coisas para percebermos e termos noção daquilo que realmente interessa.

E sigo aqui, na cama do meu quarto, com a janela e a porta aberta, simplesmente… a ouvir a chuva a cair…