quinta-feira, 2 de setembro de 2010

no i desta semana... nem de propósito

OS IRMÃOS NÃO SE falam.
Às vezes nem olham uns para os outros. Passam-se dias e dias em que a única coisa que se ouve entre eles é "Passa-me aí a manteiga". Quase sempre, quando mantêm um diálogo de mais de 30 segundos, é porque vão discutir. E se o diálogo se prolonga é porque vai acabar em pancadaria. Os irmãos não se falam porque não precisam. Brincam juntos, dormem juntos, comem juntos, vivem juntos, têm as mesmas roupas, gavetas, brinquedos, pais, avós, quarto, casa, passado, genes, educação, livros, manias, outros irmãos, amigos, etc. Logo, falar sobre o quê? Não há grandes experiencias para trocar. Conversar como pessoas civilizadas que vivem debaixo do mesmo tecto e que tentam manter uma relação duradoura até que a morte os separe não é coisa para irmãos, é para pais. Porque irmão que é irmão não fala sem ser por obrigação.Quando os irmãos crescem as coisas podem mudar. Mas só porque, além de irmãos, assumem também o estatuto de amigos. Aí conversam, fazem cerimónia uns com os outros, raramente discutem, falam que se farta e nem se importam de emprestar coisas. Mas isto, no mundo das crianças, é quase impossível. Uma criança não é amiga do irmão como se de um amigo qualquer se tratasse; é irmão, o que chega e sobra. Não lhe dá confiança, mas entende-o melhor que ninguém - muitas vezes até melhor que os pais. É assim como a palma da mão: nunca falamos como ela mas conhecemo-la melhor que ninguém.Não, os irmãos não se falam, sentem-se.